Seating Insights

Mapa de pressões 2

Uma ferramenta incrível, se bem usada.

Na primeira newsletter partilhámos o exemplo do Carlos, cujo mapa de pressões alterou significativamente após 15 minutos.

Abordámos também a importância de ter o mapa bem calibrado e de utilizar toda a escala, se ainda não leu, pode fazê-lo aqui.

Agora, vamos partilhar mais exemplos e aprofundar o raciocínio.

Quando temos um resultado negativo no mapa de pressões, como um ponto de pressão, não devemos assumir de imediato que a almofada é inadequada.

O raciocínio clínico entra aqui: por que razão surge esse ponto de pressão? Muitas vezes, as questões são mais posturais do que relacionadas com a resposta da almofada.

Caso Prático 1: Andreia

Contexto:

  • Adulta
  • Paralisia cerebral
  • Usa cadeira de rodas elétrica há 30 anos
  • Não tem sistema de posicionamento (apenas uma almofada simples e encosto em tela)

Problema

  • Ponto de pressão no ísquio esquerdo

O objetivo é aliviar a pressão nessa área. Uma possível solução seria a basculação a 50°, o que melhorou a situação, mas não resolveu completamente.

Experimentámos várias almofadas e o resultado era semelhante.

Por que não resultou?

A alteração postural não era flexível. A pressão não era gerada apenas pelo peso da Andreia, mas também pelo movimento de rotação e obliquidade da pélvis.

Na radiografia, vemos o seguinte:

  • A linha verde simula a posição do cinto pélvico que estabiliza a pélvis (impedindo a rotação/elevação e limitando esse movimento).
  • A linha azul representa o movimento realizado pela pélvis.
  • Se houver um bloqueio na rotação/elevação da anca (lado dianteiro Andreia, à esquerda na imagem), surgirá pressão na zona contrária, no ísquio (indicado em vermelho).

A solução foi exigir menos alinhamento na pélvis, permitindo que ficasse numa posição que a Andreia tolerasse, distribuindo melhor a pressão.

O alinhamento perfeito nem sempre é o melhor caminho, e diferentes almofadas também não resolveram o problema. A chave foi entender o comportamento postural e adaptar-se a ele.

Caso Prático 2: Pedro

Contexto:

  • Adulto
  • Lesão medular alta
  • Usa cadeira de rodas elétrica
  • Histórico de várias úlceras de pressão, incluindo duas cirurgias
  • Úlcera de pressão aberta no momento da avaliação
  • Recentemente trocou de cadeira de rodas

Problema

O Pedro conseguia controlar o uso da cadeira e o risco de úlceras, mas, atualmente, em apenas 30 minutos sentado, começa a ter problemas.

Ao realizar a avaliação com o mapa de pressões, verificámos uma pressão elevada na zona dos ísquios, especialmente do lado esquerdo, que correspondia à zona da úlcera. A área de distribuição da pressão era muito reduzida, concentrando-se apenas na pélvis/glúteos, com pouca distribuição nas coxas.

A almofada que Pedro usa é uma das mais eficazes para proteção da pele (provavelmente a melhor nesse aspeto), por isso, trocar a almofada não seria, à partida, a solução.

Ainda assim, o problema parecia simples de resolver: ajustámos a profundidade do assento e a altura dos patins da cadeira para aumentar a área de distribuição da pressão pelas coxas, o que permitiria distribuir melhor a pressão.

Isso diminuiu a pressão nas zonas identificadas, mas não de forma significativa. Para testar, experimentámos várias almofadas, mas o resultado foi pior.

Aqui entra novamente o raciocínio clínico: é preciso pensar “fora da caixa”, experimentar e ver o que funciona.

O que resultou?

Apesar da ideia inicial de baixar os patins para distribuir a carga nas coxas, o que realmente funcionou foi elevar os patins. Iria colocar mais pressão na zona pélvica, na zona de risco. Mas resultou.

Porquê?

Ao abrir o ângulo da anca (coxofemural) e do joelho (ao baixar os patins), estávamos a solicitar um alongamento dos isquiotibiais.
Estas estruturas apresentavam retração, não tendo capacidade para esse alongamento.
Como não é possível esse alongamento, a pélvis tende a deslizar (mesmo que não deslize, exerce força nesse sentido) – posteriorização/retroversão pélvica. Essas forças estavam a causar a zona de pressão.
Ao fechar o ângulo, Pedro voltou a controlar a situação e começou a recuperar.

O que fez a diferença?

Não foi apenas o uso do mapa de pressões, mas sim o raciocínio clínico aplicado.

No próximo artigo, vamos continuar a falar do Pedro e discutir como utilizar o mapa para educar e ensinar. Vamos abordar o que deve ser analisado e resumir os pontos essenciais deste tema.

Até lá, sinta-se à vontade para partilhar dúvidas ou opiniões

 

Esperamos que esta informação seja útil. Agradecemos feedback para melhorar o conteúdo. A ideia é aprendermos e crescermos em conjunto.

Se quiser agendar uma avaliação ou uma conversa, envie-nos um email para geral@tsimetria.com

 

Abraço e até já,
Joao Aires, TemperSimetria.