Seating Insights

Desconstruir barreiras

Na última edição da Seating Insights, falamos sobre o impacto dos produtos de apoio nos cuidados paliativos e sobre como, muitas vezes, há um desacreditar e um desinvestimento nessas pessoas. Procuramos tomar consciência dessa realidade para “lutarmos” contra ela.

História de um menino de 11 anos

Hoje, quero contar a história de um menino de 11 anos que avaliei num centro de cuidados paliativos. Pela primeira vez na vida, ele conduziu uma cadeira de rodas elétrica. ­

Eu já partilhei esta história nas minhas redes sociais. O motivo pelo qual vou “buscar” novamente esta história é simples: este menino estava inserido num centro de cuidados paliativos. ­

Foi aqui que uma colega minha, terapeuta ocupacional, ouviu da médica pediatra “não justifica, se está quase a morrer não justifica”.

Quando partilhei o caso, não sabia desse obstáculo “extra”.

A partilha que fiz:

Loucura. A criança super feliz. As pessoas presentes começaram a chorar. De alegria. De emoção, ao ver a transformação acontecer.

Disse eu:

“Não conseguimos, ainda assim, ter noção do impacto que é.”

E não.

Imaginem por um momento…

Uma criança que, durante 11 anos, nunca conseguiu deslocar-se sozinha. Nunca explorou o mundo de forma independente. Nunca foi atrás de um amigo sem precisar de ajuda.

E, de repente… já pode.

 

O Medo da Mudança

Entre todas as pessoas felizes e entusiasmadas, surgiu alguém, com poder de decisão, que não concordava com a cadeira de rodas elétrica.

A primeira reação?

Confrontar. Contestar.

Mas isso não ia resolver nada. Pelo contrário, só ia reforçar a resistência.

Então, optámos por desconstruir.

“Não me acredito que essa pessoa não queira ver o menino mais independente e feliz.”

A cadeira de rodas elétrica era uma novidade para aquele ambiente. E a novidade assusta.

Foram partilhados os receios, foram encontradas soluções e o problema foi resolvido.

As barreiras não estão na criança. Ao longo dos anos, percebi que, quando falamos de cadeiras de rodas elétricas em pediatria, as barreiras não estão na cadeira e não estão na criança.

  • As barreiras estão nos adultos.
  • As barreiras estão no ambiente.

Por isso, o nosso papel vai além de avaliar e prescrever. Temos que:

  • Sensibilizar.
  • Educar.
  • Facilitar todo este processo.

Com empatia. ❤️ Sempre.

 

O desfecho?

Sim, o menino terá a sua cadeira de rodas elétrica.

 

A avaliação

Fui resgatar este exemplo porque espelha bem a “luta” que falamos na newsletter anterior.

A pessoa que se manifestou contra na avaliação, não foi a médica pediatra.

Na avaliação surgiram problemas como perigo da cadeira em relação a outras crianças, dificuldade de transportar a cadeira, local para carregar a cadeira, transferência da criança para a cadeira.

Tudo problemas de relativa fácil resolução. Era o novo, o sair da zona de conforto a “assustar”. Estavam acomodados! (só evoluímos quando saímos da zona de conforto).

A juntar a estes obstáculos surgiu depois esta postura da médica. Eu só soube disto mais tarde e deixo aqui uma palavra de reconhecimento pelo esforço e dedicação da colega que conseguiu desconstruir isto.

A cadeira será financiada pela segurança social.

A criança tem direito à cadeira. A questão financeira supostamente não é da responsabilidade da médica. Ainda assim, usou esse argumento. ­

 

Fale connosco

Espero que este exemplo nos posso inspirar a não nos acomodarmos. E como dizia na newsletter anterior, (se não leste, lê aqui)

Vale a pena lutar, sempre!

menino em questão vai conduzir com um comando especial, um mini-proporcional ultra-sensível.

No próximo artigo partilhamos o processo de avaliação de uma criança inserida num centro de cuidados paliativos. Foi preciso “partir pedra”.

Se esta história fez sentido para si, se já passou por desafios semelhantes ou tem dúvidas sobre soluções para crianças ou adultos, fale connosco. Falarei sobre alguns exemplos de comandos especiais na próxima newsletter.

Vamos impactar vidas, uma de cada vez.

Se quiser agendar uma avaliação ou uma conversa, envie-nos um email para geral@tsimetria.com.

Se quiserem, dêem-nos feedback! Queremos sempre melhorar.

 

Abraço e até já,
Joao Aires, TemperSimetria.