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Mobilidade elétrica em pediatria

Qual a importância da mobilidade no desenvolvimento da criança? Em que idade devemos iniciar o processo de aprendizagem de condução de cadeira de rodas elétrica (CRE)? Como deve ser o treino de condução de CRE? Neste espaço abordamos, de forma geral, simples mas científica, estas questões. Estamos ao dispor para o ajudar no que precisar ou tirar dúvidas que possam surgir. Vamos lá! ?

  • Mobilidade: Nesta secção consideramos mobilidade como a capacidade da criança se deslocar no seu contexto, “ir do ponto A ao ponto B”. Neste caso, mobilidade não se refere a amplitudes de movimento ou movimentar diferentes segmentos do corpo (não confundir com mobilidade articular por exemplo).

**Mobilidade elétrica (ME): Refere-se à utilização de cadeira de rodas elétricas (CRE) ou qualquer outro equipamento/dispositivo alimentado por baterias utilizado para a criança se deslocar (por exemplo “ride-on cars”).

Qual a importância da Mobilidade no desenvolvimento da criança?

Existe uma forte correlação entre mobilidade auto-iniciada e o desenvolvimento global. A mobilidade está associada ao desenvolvimento e aquisição de importantes competências de perceção, visuais, cognitivas, sociais!

E a ME apresenta benefícios

Estudos demonstram também impacto da ME no desenvolvimento da comunicação, linguagem, cognição e participação social. De forma clara a investigação científica realizada demonstra benefícios no desenvolvimento global e independência em crianças que utilizam CRE.

As crianças veem mobilidade em CRE por aquilo que é, uma forma de aumentar o seu sentido de eficácia,  explorar e movimentar-se no seu ambiente para satisfazer a sua curiosidade, experienciar diferentes sensações, participar, socializar e aprender.

Em que idade devemos iniciar treino de condução de CRE?

Alguns estudos realizados com crianças com desenvolvimento normal mostram que podem iniciar a utilização de joystick para manobrar CRE aos 14 meses, e que podemos ver uma utilização competente de CRE entre os 17e os 22 meses.

Outro estudo demonstrou que crianças com alterações motoras significativas, com acesso frequente a treino de CRE em casa , apresentam bons resultados a manobrar CRE por volta dos 30 meses.

Independentemente disso, verificou-se também que os bons resultados na condução de CRE em casos com limitação cognitiva se relacionam mais com frequência e oportunidade de treino do que com fatores como idade ou competências motoras.

O desenvolvimento e a aquisição de competências para condução de CRE não “surge do nada” mas sim de um período de treino e aprendizagem em diferentes contextos (como todas as aprendizagens). Destes estudos surgem indicadores claros que podemos iniciar o treino de condução desde cedo e que o processo de aprendizagem requer resiliência.

Como devemos fazer o treino de CRE?

O treino de condução de CRE deve ser definido e implementado de acordo com cada situação. O treino mais eficiente será sempre feito com a criança a utilizar a CRE. Deve ser gradual e supervisionado, onde a criança deverá ter oportunidade de falhar em segurança, com o suporte necessário para superar diferentes etapas. Inicialmente, como forma de avaliação e/ou sempre que possa não ser seguro a criança manobrar uma CRE, poderemos realizar treino de utilização de comando através de vídeo-jogo (com a criança sentada numa cadeira de atividades por exemplo) ou realidade virtual. Estudos mais recentes apontam para um treino mais eficiente utilizando a CRE mas consideram vídeo-jogo e realidade virtual uma forma de treino preparatório válida.

Em resumo, a mobilidade independente é essencial na motivação, desenvolvimento, e participação social. Mobilidade elétrica e o seu treino deve ser promovido e implementado o mais cedo possível em crianças com limitação na sua mobilidade.

João Aires, Terapeuta Ocupacional

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